domingo, outubro 31, 2004

O Tejo nasceu na Bica

O TEJO NACEU NA BICA
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Carlos Azevedo

ntérprete: Marcha da Bica

Há quem diga que o rio Tejo
é filho de uma viela
pintada num azulejo
que em cada manhã eu vejo
sempre que espreito à janela

Por isso é que a minha rua
é de todas a mais rica
pois alguém ouviu a lua
a jurar de rua em rua
que o Tejo nasceu na Bica

Os marinheiros que se fizeram ao mar
levaram as vielas mundo fora
a caravela era um bairro popular
onde a tristeza é mal que não demora
Os mastros eram arcos enfeitados
o brilho das estrelas um balão
e o barulho das ondas eram fados
de uma sereia que se fez fadista em vão

Há quem diga a viva voz
não há gente como esta
porque baste dois de nós
cantarem a uma voz
para a Bica estar em festa

E há quem diga que Lisboa
de tão contente que fica
esquece o peixe que apregoa
esquece mesmo que é Lisboa
e vem dar o braço à Bica

Os marinheiros que se fizeram ao mar
levaram as vielas mundo fora
a caravela era um bairro popular
onde a tristeza é mal que não demora
Os mastros eram arcos enfeitados
o brilho das estrelas um balão
e o barulho das ondas eram fados
de uma sereia que se fez fadista em vão

sábado, outubro 30, 2004

Beijo alentejano


BEIJO ALENTEJANO
Letra: Tiago Torres da Silva/Música: Carlos Gonçalves

Intérprete: Nuno da camara Pereira no cd "Fado à minha maneira"
Intérprete: Nuno da camara Pereira e Vitorino no show "NCP no coliseu"

Dizem que no Alentejo
Tudo é feito devagar
E assim que termina a sesta
Só se pensa em descansar

E a gente não entende
A razão de tanta pressa
Se depois de cada noite
Há um dia que começa

Um beijo no Alentejo
É dado devagarinho
Que a gente sabe que um beijo
É muito mais que um carinho
Por isso é que quem cá vem
Tem pena de não ficar
Ao ver o gosto que tem
Um beijo dado devagar

Quando uma estrada começa
Os homens pensam assim
Vá devagar ou depressa
Um dia chega-se ao fim

E quando as mulheres mondam
olhando mais para além
Às vezes perdem os olhos
Na pressa que o amor tem

Um beijo no Alentejo...

Não foge a água da fonte
O sol demora a nascer
E até a erva do monte
Leva o seu tempo a crescer

Quem vier venha com calma
Porque olhando a nossa gente
Só lhe pode ver a alma
Quem não olhar de repente

Um beijo no Alentejo...

sexta-feira, outubro 29, 2004

Maré cheia



MARÉ CHEIA
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Anamar

Intérprete: Anamar no cd "Transfado"

Sempre que o mar anuncia
uma nova tempestade
toda a maré se esvazia
todo o meu corpo se invade
daquele noite tão fria

E mergulhamos os dois
sem medo do temporal
como se o mar fosse um sol
a brilhar num vendaval
e os nossos olhos azuis
reluzem em cada vaga
como se dois corpos nús
se unissem em gota d'água
que numa onda de luz
afoga as ondas da mágoa

Quando a maré cede ao vento
o doce cair na areia
descubro em ti o relento
que protege quem se enleia.
Meu amor acolhe o vento
que eu acolho a maré cheia

quinta-feira, outubro 28, 2004

Eu não sabia



EU NÃO SABIA
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Anamar e Armando Vieira Pinto (Fado Maldição)

Intérprete: Anamar no cd "Transfado"

Nem por ti nem por ninguém
subi ao monte mais alto
ia só por ser além
e a cada passo que eu dava
ouvia a voz do basalto
nas minhas veias de lava

Meu amor eu não sabia
que por trás do teu olhar
existe uma luz que é dia
existe um azul que é mar
meu amor eu não sabia

Enfrentei raios, trovões
dos meus pés fiz cada passo
da minha voz fiz canções
não temi lobos nem feras
e não morri de cansaço
à procura de quem eras

Meu amor eu não sabia
que por trás do teu olhar
existe uma luz que é dia
existe um azul que é mar
meu amor eu não sabia

Numa noite tão agreste
vi o sol dentro da lua
no abraço que me deste
e a noite adormeceu
descobrindo que sou tua
ao saber que tu és meu

Meu amor eu não sabia
ao cruzar o teu olhar
que um azul acontecia
como onda que abre o mar
meu amor eu não sabia

quarta-feira, outubro 27, 2004

País Oceano



PAÍS OCEANO
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Ricardo Cruz e Anamar

Intérprete: Anamar no cd "Transfado"

O meu país é o mar
o meu país quem mo dera
porque esquecemos nadar
este chão é uma quimera
na ânsia de navegar
e as ondas todas à espera

Gaivota que bate a asa
e que vai pra nunca mais
à procura de uma casa
na rota de outros beirais
o rosto que nunca esqueces
o amor que nunca trais
o barco que anda aos ésses
sem nunca sair do cais

Sou um país-oceano
sou um país-ocidente
uma alma de cigano
que vai pró mar de repente
debaixo de um sol profano
as ondas todas são gente

Gaivota que bate a asa
e que vai pra nunca mais
à procura de uma casa
na rota de outros beirais
o rosto que nunca esqueces
o amor que nunca trais
o barco que anda aos ésses
sem nunca sair do cais

terça-feira, outubro 26, 2004

Fado em bom português


FADO EM BOM PORTUGUÊS
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Alfredo Marceneiro (Fado Laranjeiro)

Intérprete: Miguel Ramos no espectáculo "Casa de fado"

Portantos... uma canção
para a conseguir cantar
pode faltar coração
tem de se saber falar

Estas novas raparigas
ganham pra mais de cem contos
mas a sfadistas intigas
é que o sabem todo... e prontos

Mal ponho um disco a tocar
fico cheio de saudades
mas se hei-de ouvir a chorar
por certo tu também há-des

Quem canta o fado sentido
pode às vezes ver-se à rasca
para cantar o corrido
fora da luz de uma tasca

Porque é à luz de uma vela
com vinho do carrascão
que o fadista abre a jinela
pra dentro do coração

Inté já me têm dito
alguns de vossemecês
que o fado é hoje erudito
e fala bom português

segunda-feira, outubro 25, 2004

A meio-caminho

A MEIO CAMINHO
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Pilar Homem de Melo

Intérprete: Pilar Homem de Melo no cd "Põe um bocadinho mais alto"

Vivo a meio-caminho entre Marte e Lisboa
A bordo de um vaivém ou nua numa canoa
Queimada das estrelas ou da chama do fogão
Perdendo a gravidade em dois tragos de Esporão.
Às vezes dou comigo em reuniões lá em casa
A enrolar cigarros nos segredos da NASA
Sempre a meio-caminho entre a paz e a Terra
Ergo a minha espada porque estamos em guerra.

Guerrilheira/ Estrangeira/ Em qualquer lugar/ A distância é o meu lar

Vivo a meio-caminho entre a feira de Cascais
E as etiquetas caras dos centros comerciais
Ás vezes de Manhattan, outras vezes talibã
Vestindo uma burka num exclusivo Pierre Cardin
De dia em Ipanema, de noite no Bairro Alto
Nem sempre de havaianas nem de sapatos de salto
Sempre a meio caminho entre a paz e a Terra
Ergo a minha espada porque estamos em guerra.

Guerrilheira/ Estrangeira/ Em qualquer lugar/ A distância é o meu lar

Vivo a meio caminho entre as nove e as dez
Parada ou correndo o mundo de lés-a-lés
Nuns dias anarquista, noutros dias liberal
Muitas vezes quaresma, muitas vezes carnaval
Numa hora quero chuva, na outra deito-me ao sol
Numas coisas Amália, noutras puro rock’n roll
Sempre a meio caminho entre a paz e a Terra
Ergo a minha espada porque estamos em guerra

Guerrilheira/ Estrangeira/ Em qualquer lugar/ A distância é o meu lar

Vivo a meio caminho entre um quadro de Rembrandt
E o primeiro raio que surge de manhã
Num ponto equidistante entre Cristo e Gandhi
Nem sempre Bethoveen e nem sempre Rita Lee
Numas vezes sou careta, noutras vezes imoral
Num instante feliz, noutro etcétera e tal
Sempre a meio caminho entre a paz e a Terra
Ergo a minha espada porque estamos em guerra

Guerrilheira/ Estrangeira/ Em qualquer lugar/ A distância é o meu lar

A MEIO CAMINHO (versão para o Brasil)
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Pilar Homem de Melo

Vivo a meio-caminho entre Marte e a Lagoa
A bordo de um vaivém ou nu na minha canoa
Queimado das estrelas ou da chama do fogão
Perdendo a gravidade em dois goles de ilusão.
Às vezes dou comigo em reuniões lá em casa
A enrolar cigarros nos segredos da NASA
Sempre a meio-caminho entre a paz e a Terra
Ergo a minha espada porque estamos em guerra.

Guerrilheiro/ Estrangeiro/ Em qualquer lugar/ A distância é o meu lar

Vivo a meio-caminho entre a feira de Ipanema
E as griffes destinadas às estrelas de cinema
Ás vezes de Manhattan, outras vezes talibã
Vestindo uma burka num exclusivo Pierre Cardin
De dia na Paulista, de noite em Copacabana
Nem sempre de sapato e nem sempre de havaiana
Sempre a meio caminho entre a paz e a Terra
Ergo a minha espada porque estamos em guerra.

Guerrilheiro/ Estrangeiro/ Em qualquer lugar/ A distância é o meu lar

Vivo a meio caminho entre as nove e as dez
Parado ou correndo o mundo de lés-a-lés
Nuns dias anarquista, noutros dias liberal
Muitas vezes quaresma, muitas vezes carnaval
Numa hora quero chuva, na outra deito-me ao sol
Numas coisas Cartola, noutras puro rock’n roll
Sempre a meio caminho entre a paz e a Terra
Ergo a minha espada porque estamos em guerra

Guerrilheiro/ Estrangeiro/ Em qualquer lugar/ A distância é o meu lar

Vivo a meio caminho entre um quadro de Rembrandt
E o primeiro raio que surge de manhã
Num ponto equidistante entre Cristo e Gandhi
Nem sempre Bethoveen e nem sempre Rita Lee
Numas vezes sou careta, noutras vezes imoral
Num instante feliz, noutro etcétera e tal
Sempre a meio caminho entre a paz e a Terra
Ergo a minha espada porque estamos em guerra

Guerrilheiro/ Estrangeiro/ Em qualquer lugar/ A distância é o meu lar

domingo, outubro 24, 2004

Beijei as tuas mãos


BEIJEI AS TUAS MÃOS
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Carlos Gonçalves

Intérprete: Mª João Quadros no cd "maria João Quadros"

Beijei as tuas mãos na Beira-praia
fui barco em tempestade de alto mar
tu lutavas agarrado à minha saia
e eu já só teimava em naufragrar

e as minhas mãos encheram-se de mar!

Beijei as tuas mãos de olhos fechados
no teu sono abri o meu caminho
fiquei perdida entre lençóis bordados
e então adormeci devagarinho

e as minhas mãos encheram-se de linho!

Beijei as tuas mãos com olhos gastos
por pouco não morri nesse momento
porque os teus beijos todos eram castos
e eu queria o nosso amor feito ao relento

e as minhas mãos encheram-se de vento!

Beijei as tuas mãos... beijei-te todo
e em cada beijo a mais eu descobri
que se eras mar de sal, és mar de lodo
só não descubro porque não fugi

e as minhas mãos encheram-se de ti!

sábado, outubro 23, 2004

Rosa de lava



ROSA DE LAVA
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Vasco Ribeiro Casais

Intérprete: Dazkarieh

Ser onda do mar
fez-me perceber
que posso acabar
sem ter de morrer

Ser rosa de lava
deixou-me supor
que quem me assassinava
agia por amor

Ser raio de luz
abriu-me ao prazer
de me descer da cruz
antes de nascer

Ser alma de fera
uivando de cio
salvou-me da quimera
que dói por um fio

Entre ser e não ser
não sei qual será a escolha
mas talvez vá escolher
um’alma novinha em folha

A seiva nas veias
- ser flor por um triz -
alimenta as ideias
do ser na raiz

A sombra das horas
que o mundo rodou
desamarra as escoras
do tempo que sou

O sal no olhar
ungiu-me da fé
que faz de mim um mar
pobre de maré

Mar ou labareda
que o fogo semeia
construindo a vereda
que a vida incendeia

--------

O sal no olhar
abriu-me ao prazer
de ser onda do mar
antes de nascer

A sombra de luz
deixou-me ser flor
e salvou-me da cruz
que dói por amor

A seiva nas veias
fez-me perceber
que posso ter ideias
sem ter de morrer

Uivando de fé
quem me assassinava
incendeia a maré
com rosas de Lava

Entre ser e não ser
não sei qual será a escolha
mas talvez vá escolher
um’alma novinha em folha

sexta-feira, outubro 22, 2004

Sereia



SEREIA
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Jaime Cavalheiro (Fado menor do Porto)

Intérprete: Ney Matogrosso e Né Ladeiras no cd "Da minha voz"

Beira-mar à beira-areia
o azul do mar chamou-me
e na voz de uma sereia
ouvi dizer o meu nome

Beira-mar à beira-amor
perguntei-lhe quem mechama
ela disse que era a dor
que não pode amar mas ama

Beira-mar à beira-porto
gritou: a minha alma é tua
mas quando olhei o seu corpo
foi-se embora semi-nua

Beira a beirar solidão
durante dias chamei-a
e no mar do coração
ao longe escuto a sereia

quarta-feira, outubro 20, 2004

Fado calado

FADO CALADO
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Anamar

Intérprete: Anamar no cd "M"

Alma que voz
um fado mudo
nós
tudo

Canto o abismo
imenso
baptismo
silêncio

Voz dos mantras
sagrada
alma que cantas
calada

terça-feira, outubro 19, 2004

Vou num rio


VOU NUM RIO

Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Armando Machado (Fado Licas)

Intérprete: Anamar no cd "Transfado"
Intérprete: Rita Ribeiro no cd "Deixo-me ir atrás do fado"
Intérprete: Né Ladeiras com música tradicional arménia no cd "Da minha voz"

Vou num rio pró mar e eu já fui rio
e o que já fui ainda sou agora
como fui água nunca sinto frio
porque fui mar nunca me vou embora

Vou sendo ar a revelar sementes
e beijo nuvens como sendo irmãs
levada pelas brisas ascendentes
respiro o céu de todas as manhãs

Filha do sol, do fogo e da saudade
vou sendo as vidas a que Deus me deu
e ao ir nesse fluir da eternidade
de fogo e sol eu visto as cores do céu

Mas por ter sido pedra, rocha e mar
sinto nas pedras o meu ser vazio
e agora como Deus me deu sonhar
sonho ser pedra... rocha... e vou num rio

segunda-feira, outubro 18, 2004

Ser só tua



SER SÓ TUA
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Pilar Homem de Melo

Intérprete: Lara Li no cd "Último beijo"

Não me olhes como se eu fosse
uma princesa
um doce
uma beleza
de capa da Elle
pega apenas
nas minhas pernas morenas
vem expiar as minhas penas
no carmim da minha pele

Não esperes de mim uma escrava
um modelo
nem lava
nem gelo para derreter
um carinho
o batôn no colarinho
uma garrafa de vinho
pra brindar e pra esquecer

Não me ames como se eu fugisse
ou ficasse
nem miss
nem classe
nem mulher da rua
o destino
é o riso de um menino
baiá rerundô rerundô
por saber que eu sou só tua

Não me ames como se eu fugisse
ou ficasse...

domingo, outubro 17, 2004

Sozinha pelas ruas



SOZINHA PELAS RUAS
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Pilar Homem de Melo

Intérprete: Pilar Homem de Melo no cd "Não quero saber"
Eugénia Melo e Castro no cd "poPortugal"

Eu ando nas ruas apenas pelo prazer de andar
um copo a mais às vezes faz-me tropeçar
sozinha vejo a noite a deitar-se entre nós dois
hei-de adormecer, dormirei depois

Eu saio pelas ruas só pra poder respirar
um beijo a mais às vezes faz faltar o ar
sozinha deixo a noite enrolada nos lençóis
hei-de voltar, voltarei depois

Eu grito nas ruas porque quero incomodar
um erro a mais às vezes faz alguém olhar
sozinha roubo à noite os acordes das canções
hei-de cantar, cantarei depois

sábado, outubro 16, 2004

Adormecer o fado


ADORMECER O FADO
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Pedro Jóia

Intérprete: Joanna no cd "Todo acústico"

Você entra nos meus sonhos
pedindo pra eu te sonhar
mas sempre que eu abro os olhos
você foi noutro lugar

Assim que eu desapareço
você quer sonhar comigo
então eu não adormeço
só pra não lhe dar abrigo

Vim te buscar
adormeci
ao acordar
já não te vi

Na insônia que me invade
com cigarros e café
é o medo da saudade
que me vai mantendo em pé

Mas o sono acaba vindo
quando o ciúme adormece
e meu amor é tão lindo
porque o sonho não te esquece

Vim te buscar
adormeci
ao acordar
já não te vi

Se a minha paixão encontra
os teus olhos de menino
só o meu sonho é que conta
pra fazer o meu destino

Por isso não adormeça
se eu não estiver a seu lado
porque um sonho que se esqueça
pode adormecer o fado

Vim te buscar
adormeci
ao acordar
já não te vi

Vim te buscar
adormeci
mas vou sonhar
que estás aqui

sexta-feira, outubro 15, 2004

Shah

SHAH
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Anamar

Intérprete: Anamar no cd "M"
Intérprete: Anamar no cd "Anamar, Né Ladeiras e Pilar ao vivo"
Intérprete: Né Ladeiras no cd "Anamar, Né Ladeiras e Pilar ao vivo"

Dos tempos em que fui terra
trago ideias como cores
o poder que ali se encerra
é o aroma que há nas flores

Dos tempos em que fui mar
trago ideias como espuma
sempre a fazê-las quebrar
nas areias uma a uma

Dos tempos em que sou gente
trago ideias como abraços
trazê-las é ir em frente
no caminho dos meus passos

Dos tempos em que for estrela
trago ideias como luz
e no espanto de trazê-la
é que a vida se traduz

quinta-feira, outubro 14, 2004

Por um Cristo Nagô

POR UM CRISTO NAGÔ
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Chico César

Intérprete: Chico César e Né Ladeiras no cd "Da minha voz"

Ouvi da boca de um erê
Ouviste o quê? Ouviste o quê?
Ilê aiê guerra
Ilê aiê dor
Ilê aiê terra
Ilê aiê não tem cor

Eu vou sair na procissão
eu vou, eu vou
levo um Cristo no coração
que nunca ressuscitou

Ai, eu vou rezando, vou chorando
ai eu!, Nossa Senhora da Dor
ai eu vou chorando, vou levando
um Cristo morto em cada andor

Ouvi da boca de um erê
ouviste o quê? Ouviste o quê?
Ilê aiê guerra
Ilê aiê dor
Ilê aiê terra
Ilê aiê não tem cor

Eu vou sair lá no terreiro
eu vou, eu vou
e quem vai tocar pandeiro
vai ser um Cristo Nagô

Ah eu vou rezando, vou cantando
ah eu! Nossa Rainha do Mar
ah eu vou cantando, vou dançando
pra Cristo ressuscitar

quarta-feira, outubro 13, 2004

Memórias Antigas


MEMÓRIAS ANTIGAS
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Chico César

Um cigarro na Paulista
com mar a perder de vista
no que os olhos hão-de abrir
um silêncio de garôa
que me faz lembrar Lisboa
no instante de partir

Um murmúrio de cantigas
lembra memórias antigas
dos tempos que andei no mar
à procura de uma ideia
que um disfarce de sereia
não me deixou alcançar

Da janela do meu carro
lanço a ponta do cigarro
para o meio do capim
que desfaz um fogo de ânsia
porque o tempo e a distância
estão guardados dentro em mim

Vou de barco na Paulista
quem for velho que desista
vou de barco e vou à proa
pois no fim da avenida
há uma esquina perdida
noutra rua de Lisboa

terça-feira, outubro 12, 2004

Canção triste



CANÇÃO TRISTE
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Pilar Homem de Melo

Intérprete: Pilar Homem de Melo no cd "põe um bocadinho mais alto"
Hoje a manhã está triste
ou fui eu que acordei
sem ter a certeza se tu partiste
ou se sonhei

Eu sei que o sonho é feito de mistério
voz sumida
e que o difícil é escutar em stereo
sonho e vida

Sou um planeta em busca de estrelas
lua lua luz
mas por agora já me aquece vê-las
nos teus olhos nús

Hoje a manhã está fria
ou fui eu que escutei
uma voz que desde sempre ouvia
mas não liguei

Eu sei que agora é hora de acordar
ir embora
mas por enquanto deixo-me ficar
está frio lá fora

Sou um planeta em busca de estrelas
lua lua luz
mas por agora já me aquece vê-las
nos teus olhos nús

segunda-feira, outubro 11, 2004

Os homens que eu amei

OS HOMENS QUE EU AMEI
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Carlos Gonçalves

Intérprete: Tereza Tarouca

Os homens que eu amei
amei-os um a um
a todos me entreguei
e não amei nenhum

Os homens que eu amei
amei-os um a um
por todos eu chorei
e não me amou nenhum

Os homens que eu amei
amei-os um a um
a todos eu matei
e não morreu nenhum

Os homens que eu amei
amei-os um a um
por todos me matei
não me chorou nenhum

domingo, outubro 10, 2004

Boca escarlate

BOCA ESCARLATE
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Pilar Homem de Melo

Intérprete: Lia Gama no cd "Último beijo"

Rímel, batôn
pincéis e traços
qual é o tom
a cor dos abraços?

Um pouco de blush
um pouco demais
e talvez eu ache
a cor dos meus ais

Alguém me socorra
da minha boca escarlate
por ela talvez morra
talvez mate
Inúteis as fugas
de eye-liner na mão
não tapam as rugas
do meu coração

Ouro, rubi
talvez ninguém note
na dor que escondi
sob o meu decote

E quando no escuro
sozinha me vejo
procuro, procuro
procuro a cor de um beijo

Alguém me socorra
da minha boca escarlate
por ela talvez morra
talvez mate
Inúteis as fugas
de eye-liner na mão
não tapam as rugas
do meu coração

sábado, outubro 09, 2004

Zé pescador



ZÉ PESCADOR
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Jaime Santos (alexandrino)

Intérprete: Mª João Quadros no cd "Maria João Quadros"

Eu fui até ao cais
à procura do Zé
não o conhecem mais
ninguém sabe quem é

Alguém o viu passar?
não há quem me responda
dizem que foi pró mar
deitar-se numa onda

A maré quando encheu
apagou-lhe a beata
e quando o mar desceu
o Zé fez-se fragata

Perguntei nos cafés
toda a gente o esqueceu
encontrei tantos zés
mas nenhum é o meu

Um velho pescador
ainda se recorda
diz que o Zé é a dor
da rede que ele borda

E diz que se o meu Zé
partiu, a culpa é minha
levou-o a maré
das saudades que tinha

sexta-feira, outubro 08, 2004

O tempo dos anjos


O TEMPO DOS ANJOS
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Joaquim Campos (Fado Tango)

Intérprete: Anamar no cd "M"

Hoje acordei mulher
do homem que outrora fui
cada um é o que quer
no momento em que souber
o passo a que o tempo flui

Amanhã serei o oposto
da mulher que em mim invento
terei o eterno rosto
porque conheço de gosto
a velocidade do tempo

Então verás semelhantes
o que não queres e o que gostas
que as vidas depois estão antes
das horas que são instantes
das coisas que são opostas

quinta-feira, outubro 07, 2004

Vem devagarinho



VEM DEVAGARINHO
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Fernando Girão

Intérprete: Rita Ribeiro no cd "deixo-me ir atrás do fado"

Meu amor eu não sabia
que ao beijar a tua fronte
o raiar de um novo dia
inundava o horizonte

Meu amor eu não sonhava
que o amor quando se canta
faz nascer mais uma oitava
dentro da nossa garganta

Meu amor eu não pensei
que pudesse acontecer
mas agora que já sei
já nem cuido de saber

Vem
basta andar devagarinho
Vem
pois se baixarmos a voz
alguém nos mostrará o caminho
onde se ouve Deus baixinho
a cantar dentro de nós

quarta-feira, outubro 06, 2004

Mar de Amália


MAR DE AMÁLIA
Letra: Tiago Torres da Silva/Música: Carlos Gonçalves

Intérprete: Manuela Cavaco no cd "Fado a sério"

Ao ver a fúria do mar
a bater contra um rochedo
quase consigo escutar
a voz da Amália em segredo

e as ondas querem cantar
e as ondas não têm medo

a noite fica acordada
porque a saudade não pensa
que debaixo da almofada
dorme aquela voz imensa

e canta a noite inspirada
e não lhe pede licença

quando o vento não se cala
e levanta o pó do chão
julgo ouvir a voz da Amália
que vem cantando um malhão

e o vento tenta imitá-la
e não lhe pede perdão

fico sentada à janela
de mão dada ao meu jardim
e às vezes ouço a voz dela
a cantar dentro de mim

e para poder merecê-la
vou cantar até ao fim

terça-feira, outubro 05, 2004

Duas nuvens



DUAS NUVENS
Letra: Tiago Torres da Silva/Música: Pedro Jóia

Intérprete: Ney Matogrosso no cd "Jacarandá"
Intérprete: Ney Matogrosso no cd "Canto em qualquer canto"

Tristes são os olhos de quem chora
um amor que pôs o pé na estrada

tentam convencer quem vai embora
que a estrada de ir vai dar em nada

luz que incendeia
corpos confusos
e um coração que anda à boleia
de desejos, mistérios e búzios

lágrimas que surgem na aurora
cristais de geada no lençol

gotas de um orvalho que evapora
na preguiça de um raio de sol

luz que clareia
corpos confusos
e um coração que anda à boleia
de desejos, mistérios e búzios

Olhos - duas nuvens a voar
sobre os céus
talvez sejam os teus ou os meus
vão na chuva, vão no vento, vão no rio, vão no mar

quando escutares o barulho
das ondas ao sabor da minha mágoa

sou eu que na pressa de um mergulho
fui me confundindo com a água

luz que prateia
corpos difusos
e um coração que anda à boleia
de desejos, mistérios e búzios

Olha - duas nuvens a voar
sobre o céu
talvez sejas tu ou seja eu
eu que sou chuva, que sou vento, que sou rio, que sou mar

segunda-feira, outubro 04, 2004

Sinhô



SINHÔ
Letra: Tiago Torres da Silva/Música: Chico César

Intérprete: Né Ladeiras no cd "Da minha voz"
Intérprete: Pilar Homem de Melo no cd "Anamar, Né Ladeiras e Pilar ao vivo"

Si o sinhô si discalçá
não lhi dou meu amô
que essas bota são tão lindas
como os óio do sinhô

Si o sinhô vié no mato
não vai me intendê nada
o amô não tem sapato
mas si dá numa risada

Meu pente é a brisa
o sol me queimou
tenho a pele lisa
que o rio beijou.
Ah, deixa eu durmi
porque si eu sonhá
no meio da noite
virá, o boto virá

Si o sinhô mi qué chamá
mi dê um nomi di flô
porque eu vou lhi amá agora
mas depois não sei si vou

Si o sinhô mi dé um nomi
eu me amarro no seu pé
eu não sei chamá um homi
mas sei sê sua muié

Meu pente é a brisa (etc)

Si o sinhô mi dé brilhante
eu lhi dou outro presente
di como as vozes dos bicho
fala mió do que a gente

Si o sinhô mi dé sapato
eu não vou querê calçá
eu quero deitá cuntigo
mas num quero sê sinhá

Meu pente é a brisa (etc)

domingo, outubro 03, 2004

Lafaek


LAFAEK
Letra: Tiago Torres da Silva/Música: Pilar Homem de Melo

Intérprete: Pilar Homem de Melo no cd "Não quero saber"
Intérprete: Anamar no cd "anamar, Né Ladeiras e Pilar ao vivo"

Nas costas de Lafaek eu vou
a mergulhar do céu no mar que eu sou
e o meu olhar atrás do sonho
vai vai vai
no mar que em mim mergulha

Descubro estrelas dentro de ilhas
nos olhos passam mais noites do que dias
e a minha voz atrás do vento
vai vai vai

Indo sobre o mar
indo sobre o mar
na luz de nascer indo
Ó mehi, ó matene mehi?

Nas asas de Lafaek eu vou
a desvendar a onda que me sonhou
e escuto búzios que num eco
vão vão vão
multiplicando o mar

A lua brilha em cada espuma
é sempre a mesma e sempre... sempre mais uma
e a sua luz dentro de mim
vai vai vai

Indo sobre o mar
indo sobre o mar
na luz de nascer indo
Ó mehi, ó matene mehi?

sábado, outubro 02, 2004

Meu amor abre a janela



MEU AMOR ABRE A JANELA
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Armando Machado (Fado Santa Luzia)

Intérprete: Mª João Quadros no cd "Maria João Quadros"
Intérprete: Beatriz da Conceição (na música da MArcha de Raul Pinto no show "meu corpo"
Intérprete: Joana Costa (na música do fado cravo) no cd "Recado"
Intérprete: Mafalda Arnauth (com música de Luis Pontes) no cd "Flor de fado"

Meu amor, abre a janela
que eu vou passar junto dela
quando chegar a tardinha
mas não chames o meu nome
porque a saudade encontrou-me
e eu posso não estar sozinha

Prendi no peito uma flor
que diz mais do meu amor
do que promessas sem fim
mas não venhas a correr
que ninguém deve saber
o que tu sentes por mim

E depois não tenhas medo
que eu sei amar em segredo
e vou passar de mansinho
sem levantar a cabeça
pra que ninguém me conheça
tu podes não estar sozinho

Só quando a noite cair
é que me atrevo a subir
para te pôr na lapela
a flor da minha saudade
mas como o frio nos invade
meu amor, fecha a janela!

sexta-feira, outubro 01, 2004

Mergulhando



MERGULHANDO
Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Fábio Tagliaferri

Intérprete: Rodrigo Rodrigues no cd "Só um é muito só"
Intérprete: Anamar, Né Ladeiras e Pilar no cd "Anamar, Né Ladeiras e Pilar ao vivo"

Onda vem
onda vai
embala as noites mãe
noites que o tempo distrai
numa onda que não vem
mas que nasce no mar também
e é onda como eu sou ninguém

Onda-tua
onda-gente
afoga um céu de lua
e o sol em quarto-crescente
parece dizer que é gente
parece dizer sou sua

e por eu ser sua
o mar se faz gente
e o sol se levanta mais quente
pra me ver com roupas de nua
molhada do cair da lua

veja o sul no meu olhar
veja o sal na minha mão
e que as ondas quebrem no mar
a espuma do meu coração

ondas vão...